28 de out. de 2011

Aula Sobre Doujins!

Olá, senhores.

Você sabe o que é um doujinshi? Como funciona esse mercado? Quem são os artistas?
Apesar deste blog tratar exclusivamente da tradução destas obras, percebi que até agora não tinha escrito uma única palavra sobre os doujinshis. Muita gente ainda confunde mangás, doujins, ciclos e outros termos.

Então que tal um texto explicando tudo isso?

Desta vez não tem tradução mas será interessante. Acredite em mim.


Você pode começar do início? O que são os doujinshis?

Doujinshi é uma palavra japonesa que indica um produto feito e distribuído pelo próprio artista. A tradução de doujinshi seria algo aproximado do termo fanzine que usamos no Brasil. Um fanzine não é uma história feita por fãs e distribuída e vendida por eles mesmos? O doujin se encaixa mais ou menos nessa categoria.
E, acredite, esse mercado doujinshi é enorme. Os mangás eróticos que eu traduzo são apenas a ponta do iceberg. Além destes, há centenas de CDs de músicas lançados todos os anos. Eles podem ser de peças originais ou baseadas e inspirados na trilha sonora de um anime ou jogo, por exemplo. Também temos muitos jogos doujin. Já ouviram falar de um tal de Touhou? E Higurashi no Naku Koro ni? A famosa empresa de jogos Type-Moon começou como um ciclo doujinshi. Seu primeiro lançamento foi Shingetsutan Tsukihime. Depois veio fate/stay Night, Melty Blood, entre outros.
Além de CDs e jogos, temos uma outra infinidade de produtos: animes (ainda que feitos em flash na sua maioria), livros, contos, mangás não eróticos, ensaios com cosplayers... É um mercado enorme.


Tá, me perdi. Podemos voltar pros doujins?

OK, só queria mostrar como o mercado "amador" é grande e importante no Japão. Isso serve para falarmos dos nossos amados H-doujins, ou seja, mangás doujins com conteúdo adulto.
Muitos desses doujins são baseados em obras comerciais de sucesso. Isso acontece por dois motivos: há uma demanda grande por esse tipo de material, muita gente gosta de ler histórias hentai com os personagens da série ou jogo que ela gosta. Outro motivo é a vista grossa que as empresas detentoras dos direitos dessas séries fazem. Falaremos sobre isso mais à frente.
Um erro muito comum que as pessoas cometem é achar que "doujinshi" se refere a um mangá hentai de um anime famoso. Negativo. Um doujin pode ter personagens originais ou ser baseado em uma obra já famosa. O que difere o doujin das outras publicações é a sua distribuição, como já falei.


E onde é que vende isso tudo?

Bom, o mais comum é o artista vender seus livros em feiras específicas pra isso. São várias ao ano, mas a maior delas é a Comic Market ou, simplesmente, Comiket. Ela acontece duas vezes ao ano, em agosto e dezembro. São três dias e mais de cem mil visitantes, tornando esta a maior feira de histórias em quadrinhos do mundo.
No Brasil, o mais comum é quem faz fanzine expor seus trabalhos em feiras diversas e não num evento específico, como acontece no Japão.
Ainda no Japão, existem vários outros eventos. Há montes de feiras especializadas em yuri ou yaoi e existe até feiras para uma série específica como a Air Reitaisai, que trata exclusivamente de Touhou.
O interessante é que a Comiket se tornou tão grande que, hoje em dia, ela também recebe stands de várias empresas e produtoras de animes, jogos e mangás. Se tornou um grande evento de cultura pop.
Outra curiosidade é que a indústria usa essas feiras como um "termômetro" pra saber o que os fãs compram e demandam. No final, todos saem ganhando.


Pô, legal. Mas me explica uma coisa: quer dizer que eu posso pegar qualquer personagem de anime, desenhar ele fazendo sacanagem, vender, e não serei processado?!

Pois é... Pra entender esse fenômeno é importante conhecer o mercado japonês.
Mas, primeiro, vamos dar um exemplo aqui do Brasil. Faz alguns anos que eu lembro de ter lido sobre um artista que desenhava histórias eróticas com os personagens da Turma da Mônica e postava em seu site. O estúdio Mauricio de Sousa pediu imediatamente para ele cessar a distribuição senão o caso iria parar na Justiça. Ou algo assim.
É um caso emblemático para vermos as diferenças do mercado dos dois países.
Então vamos lá... a Rei Ayanami aparece em centenas de doujinshis fazendo coisas que até Deus duvida (by Sessão da Tarde). Então por que a Gainax até hoje não processou ninguém, visto que é um claríssimo caso de uso indevido de copyright? A resposta é simples, amiguinhos. Acontece que quem faz, vende e compra esse "claríssimo uso indevido de copyright" são os próprios fãs. Justamente aqueles que gastam rios de dinheiro em animes, mangás, etc. Nenhuma empresa tem coragem de comprar briga com os maiores fãs dos seus produtos. É um tiro no pé.
Elas não incentivam a prática e talvez nem vejam com bons olhos mas também não tentam impedir.


Caramba, que legal... Você só não me explicou uma coisa: quem diabos são esses tais de ciclos? O que eles fazem?!

Ah, sim, os ciclos... Um ciclo nada mais é do que um grupo de pessoas que lançam doujinshis. Quantos de vocês já viram ou leram Genshiken? É sobre um clube de mangás de uma faculdade que resolve virar um ciclo de doujinshi e lançar seus mangás em feiras. É mais ou menos por aí.
Também é comum termos ciclos de uma pessoa só.


Mas peraí... Você tá falando de mangá amador mas eu canso de ver doujinshi de artistas conhecidos. Afinal, o cara é comercial ou não?

Haha, é verdade. Muitos artistas, pricipalmente os de hentai, mantêm um ciclo doujinshi, além de seus lançamentos comerciais. Kisaragi Gunma, Shiwasu no Okina e Kizuki Aruchu são exemplos de artistas hentai conhecidos que também têm seu ciclo de doujin. Os motivos podem ser os mais variados. Às vezes o autor veio do doujin antes de lançar comercialmente ou simplesmente usa seu ciclo pra escrever histórias que ele não poderia fazer numa revista comercial.
O que é raro é um artista fazer mangás comerciais que não sejam hentai e ainda manter um ciclo de H-doujin. O único nome que me vem à cabeça no momento é o Shouji Satou, ilustrador de Highschool of the Dead e que também participa de um ciclo de doujin hentai, o Digital Accel Works.
Por falar nisso, sabia que muitos autores conhecidos do grande público começaram fazendo doujins (Nem sempre ecchis)? Nomes como Ken Akamatsu (Love Hina, Negima!), Kiyohiko Azuma (Azudai, Yutsubato!), Rikdo Koshi (Excel Saga), entre outros. A lista é grande...


Puxa vida... Como eu gostaria de pegar em um doujinshi com minhas próprias mãos...

Bom, o que eu posso dizer é que existem várias lojas online que importam doujin. O Google tem uma lista delas. Outra boa dica é dar uma olhada no eBay de vez em quando.
Por experiência própria, posso dizer que vale mais a pena comprar um doujin usado, que chega a sair pela metade do preço. Das vezes que eu comprei eles vieram com qualidade impecável. Nada de páginas rasgadas, amassadas, etc.
Vai preparando o bolso se quiser importar doujinshi... Um livro novo custa entre 20 e 30 dólares, enquanto um usado sai entre 10 e 15, às vezes até menos.



Adivinha quem tem mais doujins que você. ^^


Essas fotos aí de cima são da minha coleção particular. Existe algo de curioso com relação a esses livros, eles são impressos em papel B5 (17x25cm), maiores que os mangás comuns. Eles também são impressos com qualidade muito superior, principalmente as capas, uma verdadeira obra de arte. Talvez por isso sejam tão caros...


Comparação entre um doujinshi e publicações nacionais.


Acima dá pra perceber como um doujin é grande quando o comparamos com as edições brasileiras de Bakuman e Negima!, ambos da JBC.


Parte interna do doujin.




Bom... isso foi só um resumo... Como podem ver, o mercado doujin é muito maior do que as pessoas pensam e não se prende apenas a publicações eróticas. Espero que o texto não tenha ficado muito cansativo. Qualquer coisa os comentários estão aí.


Nunca escrevi tanto nesse blog, mas acho que valeu a pena.


BartSSJ

6 comentários:

  1. Legal esse post cara eu já leio doujinshi a um bom tempo e sabia bastante, mas quanto a qualidade me surpreendeu. As censuras que vemos na maioria estão nos proprios doujinshi ou quem escaneia o livro que coloca?

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  2. MarcoBroly, as censuras são dos próprios livros. É uma lei japonesa.
    O interessante é que, no caso dos doujins, como a publicação é feita pelo próprio artista, o tipo de censura depende do autor. Por isso temos livros quase sem censura e outros muito censurados.

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  3. caro bart vlw muito pela explicaçao eu ja sabia mais ou menos sobre a historia de doujins agora consegui adquirir mais conhecimento sobre o assunto vlw mesmo

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  4. cara vlw pela explicaçao eu nao fazia ideia que doujin era uma coisa tao complicada

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  5. Mas não é somente na Comiket que eles vendem os doujins, tem as lojas como a Toranoana, Melonbooks e outras. Onde os artistas colocam links em seus blogs e uma previa do trabalho no Pixiv junto com os links de comprar nas lojas citadas, é bastante comum essa pratica entre os criadores de doujins mangá.

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  6. Exatamente, Anônimo. Sem contar em lojas especializadas em Akiba e outros lugares.

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